Anderson Motta, um talentoso ator e assistente de produção, vem fazendo história no cenário cultural brasileiro. Graduado em Gestão de Produção Audiovisual e formado na Escola Sesc de Artes Dramáticas, Anderson é co-fundador, CEO, e presidente do Instituto Cultura Urbana, onde atua desde 2011 na implementação de projetos culturais, educacionais, e esportivos. Com uma vasta experiência em produções artísticas, ele traz uma perspectiva única ao espetáculo “O Gênio da Lâmpada e o Tempo”, no qual não apenas interpreta o icônico personagem do Gênio, mas também colabora na produção.
“O Gênio da Lâmpada e o Tempo” teve sua estreia no Teatro Firjan Sesi, em Duque de Caxias. A obra infantojuvenil, que é uma produção da Lamims Produções em parceria com o coletivo Confraria Nau dos Loucos, explora a relação das crianças com os dispositivos eletrônicos modernos e incentiva um olhar crítico sobre a influência da tecnologia na formação e desenvolvimento infantil.
A história do projeto gira em torno do garoto Zeca, que deseja que seus amigos deixem os celulares de lado e voltem a brincar com ele. Para realizar esse desejo, Zeca conta com a ajuda especial de um Gênio da Lâmpada, embarcando em uma aventura que transcende o tempo e os leva a redescobrir brincadeiras e cantigas populares antigas.
Anderson compartilha em entrevista à Energy Mag, detalhes sobre sua trajetória, como surgiu a oportunidade de integrar o elenco do espetáculo, e as complexidades de dar vida a um personagem que transcende o tempo em um mundo onde infância e tecnologia se encontram.
Ele também fala sobre os desafios que enfrentou para equilibrar suas múltiplas responsabilidades e o impacto que a peça, com seu forte componente educativo e cultural, tem tido no público. Anderson reflete sobre a importância de resgatar brincadeiras e cantigas populares para as novas gerações e destaca momentos emocionantes vividos em cena.
Confira a entrevista completa:
Conta um pouco sobre como surgiu a oportunidade de integrar o espetáculo “O Gênio da Lâmpada e o Tempo”?
Começou no ambiente acadêmico, na disciplina de elaboração de projetos na Escola Sesc de Artes Dramáticas com a professora Natália Simonete. Eu estava no grupo do Erick Galvão, ele já tinha um esboço da ideia, me contou do tema e que imaginava que eu poderia ser o “Gênio”. Nas reuniões com o grupo, Erick trouxe a proposta para elaborarmos um projeto real com a intenção de inscrever em editais. Eu gostei muito, pois tinha o mesmo desejo. Todo o grupo “comprou” a ideia e passamos a escrever de forma colaborativa, com ajuda da Nathália Lamim, namorada do Erick. Às vezes seguimos escrevendo madrugada adentro por meio de chamada de vídeo, atualizando o arquivo no drive.
Como foi a experiência de interpretar o Gênio, um personagem que transcende o tempo, em um contexto que aborda a infância e a tecnologia? Conta um pouco sobre ele?
Desafiador. Maravilhoso! Por vários motivos. Tenho 50 anos, nasci no século passado, de certa forma transitei um pouco entre os tempos (risos), não tanto como Gênio que tem 312 mil anos… Mas vivenciei algumas tecnologias que já não estão mais em uso: mimeógrafo, retroprojetor, telefone público (Orelhão), videogame Atari, correspondência por carta, cartões impressos de Natal, usei máquina de datilografia, telégrafo, fax… Presenciei a transição do analógico para o digital, a popularização do computador e da internet, surgimento do telefone móvel celular, smart fone, IA.. E com isso, percebo diferença de comportamento e de relacionamento entre as pessoas. Então, de certa forma transitei por algumas “eras” de tecnologia diferentes.
Durante o processo, período de pesquisa do que são as múltiplas infâncias e de cada personagem, fomos “descobrindo” com a condução do diretor, a mescla dos personagens com atores. O quanto cada um “empresta” para o outro e o quanto que são a mesma pessoa.
O Gênio é sensacional porque ele pode ser uma criança, o melhor amigo, a consciência de cada um de nós mesmos, alguém mágico ao mesmo tempo tão humano que também tem desejos a serem realizados.
Que desafios você encontrou para dar vida a esse papel?
Conseguir tempo (risos). Além de ator, sou CEO de uma Organização Social (Instituto Cultura Urbana) que atua nos territórios e favelas na Zona Oeste do Rio de Janeiro, com projetos na área Cultural, Educacional, Desportiva e de Qualificação Profissional e Geração de renda, atendendo crianças, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social, atuo como produtor cultural com outras instituições e coletivos. Assim como meus colegas do espetáculos, temos que nos dedicar a outras atividades para atender a necessidade de sustentabilidade financeira pessoal. Conciliar as demandas como ator que precisa estudar o texto, pesquisar sobre o assunto, imergir no universo, se permitir atravessar por tantas questões, ter pausa para reverberar, alguns momentos de ócio criativo (como?! rsrsrs) e todas as outras que a vida cotidiana exige, realmente é muito desafiador.
Conseguimos porque juntos somos família, nos amamos, temos suporte de outros que nos amam e porque consigo dormir pouco e continuar “funcionando” no dia seguinte. Então, precisamos conciliar as disponibilidades, e os encontros precisaram acontecer aos sábados e domingos. Foram muito proveitosos, agradáveis, cansativos e ao mesmo tempo revigorantes, transformadores, maravilhosos, memoráveis…
Se deparar consigo mesmo, dentro de um processo que trata sobre o tempo enquanto material etéreo, inventado, produzido e fugaz, se debruçar sobre a minha infância vivida, a desejada e não realizada, a possibilidades de vivências no tempo atual… Interligar com as infâncias dos meus colegas do processo foi desafiador, enriquecedor, transmutador e produziu certezas, dúvidas, esperança, saudosismo, companheirismo e mais desafios compartilhados.
Como foi trabalhar nesse projeto, que tem um forte componente educativo e cultural? Você sente que a peça conseguiu passar a mensagem que queriam sobre a importância de equilibrar o uso da tecnologia na infância?
Foi ótimo. Ele coincide, se soma às práticas dos projetos dos quais sou gestor no Instituto Cultura Urbana, que inclusive nasceu a partir de um grupo de teatro que passou a oferecer oficinas culturais e educativas e depois esportivas. Também porque esse foi um dos propósitos desde o princípio quando começamos a escrever o projeto. Trazer a experiência que os membros da equipe têm nessa área educativa mesclada com cultural.
A peça resgata brincadeiras e cantigas populares. Qual a importância desse resgate para as novas gerações? Como vocês veem o papel do teatro na preservação dessas tradições culturais?
O resgate e preservação da memória das brincadeiras e cantigas populares é extremamente importante para novas gerações que não conhecem. São histórias, são raízes da formação de uma sociedade, contadas, evidenciadas e preservadas de maneira lúdica, próxima, popular e pertencente. Para mim que tive o privilégio, durante a minha infância ter essa oportunidade, foi um reencontro divertido e reconfortante. Viva os Brincantes!
O espetáculo foi concebido para ser lúdico e educativo ao mesmo tempo. Quais foram os principais desafios em equilibrar esses dois aspectos durante a produção?
Conciliar a sede pelo descobrir, a satisfação pelo redescobrir o entusiasmo por aprender e ensinar em contraposição ao Cronos que impunham limites, que não permitia que pudéssemos nos expandir e pesquisar mais profundamente.
Como a interação com o público infantojuvenil tem influenciado suas performances ao longo das apresentações? Houve algum feedback ou reação que se destacou para vocês?
No projeto, cronograma e orçamento original, intencionalmente prevemos interações, dentro dos bairros periféricos da Zona Oeste, Zona Norte e Baixada Fluminense. Seria por meio de oficinas que nós, os atores, iríamos oferecer para crianças em situação de vulnerabilidade, além de apresentações em praças públicas e espaços culturais alternativos em comunidades. E essa experiência/troca serviria para influenciar a construção do espetáculo. Não foi possível, pois precisamos adequar à realidade de que investimento financeiro que recebemos foi 15% do valor previsto para realização dessas atividades.
Até agora, fizemos a primeira apresentação. E o retorno que tivemos foi muito positivo. Desde a atenção das crianças durante a peça, a reação (suspiros / risos / choros) dos adultos, aplausos durante o espetáculo e no final, como também pelo fato de uma criança ter feito um origami para cada ator/atriz e entregue para gente na hora das fotos, foi lindo. E um depoimento de um pai: “trouxe minha filha pra ver uma peça infantil, pensando que ia ser tranquilo, que era pra ela se divertir e acabou que eu chorei, foi muito bom, vocês estão de parabéns, (risos).
O que mais surpreendeu vocês durante as apresentações de “O Gênio da Lâmpada e o Tempo”? Houve alguma reação do público ou momento em cena que foi particularmente marcante?
Muitos momentos marcantes, já estou aqui chorando e rindo por estar revivendo tudo o que foi e é esse espetáculo.
Misturando um pouco essa resposta com a outra sobre desafio, as cenas que eu canto as músicas “Três Pedidos” e “Gênio pensando” foram muito marcantes para mim. Pelo desespero de fazer certo (risos), pelo apoio sensacional dos meus colegas de cena, me dando tooodoooo o suporte. As outras músicas também, maravilhosas. Alerta Spoiler: quando acontece um reencontro familiar já no finalzinho da peça, e os áudios de familiares que foram editados e executados no final. Nossa, mais choro por aqui…
Muitos momentos marcantes, já estou aqui chorando e rindo por estar revivendo tudo o que foi e é esse espetáculo. Misturando um pouco essa resposta com a outra sobre desafio, as cenas que eu canto “Três Pedidos” e Gênio pensando.
Gratidão!
Vida longa ao “Gênio da Lâmpada e o Tempo”!
Vida longa às Infâncias!
Vida longa ao teatro!
São Paulo, receba a gente aí de braços abertos, gratidão pelas novas oportunidades. Beijos