Mon. Apr 14th, 2025

O Velho Manco, que estampa a nossa nova capa digital, é uma banda brasileira que combina indie rock com a riqueza sonora da MPB. Eles estreiam hoje (24), novo single, “Pan”, pela Marã Música. A canção explora temas como a infância interior, a dificuldade de crescer e os dilemas emocionais associados a essas reflexões e é uma mistura de simplicidade melódica e profundidade lírica, características marcantes do quarteto.

Para Mancin, vocalista e compositor, “Pan” é uma obra carregada de subjetividade. A música dialoga com descrições científicas de síndromes da mente humana e referências culturais que abordam temas semelhantes.

A ideia inicial da canção surgiu durante a pandemia, a partir de um loop de violão criado por Dan Nascimento, guitarrista da banda. Esse riff, gravado de forma despretensiosa, serviu como gatilho criativo para o desenvolvimento da letra e da estrutura musical. Musicalmente, “Pan” apresenta uma sonoridade etérea e introspectiva, resultado de uma afinação alternativa utilizada por Dan. Essa escolha permitiu uma neutralidade tonal que dá à música uma atmosfera de vulnerabilidade e reflexão. Criada em um período de intenso confinamento, a canção reflete os sentimentos de isolamento e luta interna que marcaram a época.

Apesar de sua simplicidade inicial, “Pan” evoluiu para algo mais rico e complexo, consolidando-se como uma das composições que melhor representam a identidade da banda. Para Mancin, esse processo colaborativo foi essencial.

O lançamento de “Pan” representa mais do que uma nova música no repertório de O Velho Manco; é uma oportunidade para a banda ampliar seus horizontes e alcançar novos públicos.

Formada em 2014, O Velho Manco é composta por Mancin (vocais, guitarra e violão), Vih (vocais, teclas e bateria), Dan (guitarra e violão) e Eddie (baixo). Com influências que vão de Radiohead a Chico Buarque, a banda lançou seu primeiro álbum, A Mosca, em 2018, trazendo letras melancólicas e críticas sociais. Agora, com “Pan”, eles prometem mais uma experiência marcante para seus fãs e novos ouvintes, reafirmando sua capacidade de emocionar e surpreender.

Confira a entrevista completa agora:

Como surgiu a ideia de “Pan” e o que inspirou vocês a transformar um riff simples em uma música tão marcante?

A ideia de “Pan” surgiu de um riff de violão simples, porém contagiante, que traz uma melodia melancólica. Esse riff inicial foi o ponto de partida que nos inspirou a desenvolver uma música marcante. O guitarrista Dan Nascimento utilizou uma afinação alternativa, conhecida por sua neutralidade tonal, o que proporcionou uma liberdade expressiva e uma sonoridade etérea à canção. Após o compartilhamento do riff com a banda, Vinnie começou a trabalhar em uma melodia vocal, buscando criar um dinamismo que complementasse a base instrumental. À medida que fomos construindo a estrutura da música, todos os integrantes contribuíram com arranjos, incluindo Mancin, que criou uma das melodias vocais que finalizam a música, enriquecendo ainda mais a imersão melódica que caracteriza nosso trabalho. Essa colaboração coletiva foi essencial para transformar um riff simples em uma canção que ressoa de maneira tão impactante.

Vocês mencionaram que “Pan” reflete sentimentos de isolamento e introspecção. Como foi criar essa música durante a pandemia?

Criar “Pan” durante a pandemia foi um processo profundamente impactante. As primeiras notas e acordes de violão que surgiram estavam imbuídos de sentimentos de confinamento e reflexão, refletindo a luta interna que muitos de nós enfrentávamos naquela época. O arranjo, elaborado em julho de 2020, capturou a intensidade da introspecção que caracterizou aqueles meses. A variação harmônica e a dinâmica sutil utilizadas na música contribuíram para evocar uma atmosfera de vulnerabilidade, permitindo que o ouvinte também experimentasse esse espaço de reflexão. Foi uma forma de expressar e compartilhar emoções que, de outra forma, poderiam ter permanecido silenciadas durante um período tão desafiador.

O título “Pan” começou como algo provisório e ganhou força com o tempo. O que levou vocês a mantê-lo e como ele se conecta à mensagem da música?

Pan era originalmente “Pan’s”, visto que foi criada em um momento em que tínhamos estabelecido o tema para o próximo LP – Síndromes, transtornos e neurodivergências. Nesse caso específico, em que há um quê de Síndrome de Peter Pan embutido no conteúdo, “Pan’s” com o “s” depois da apóstrofe remete ao pertencimento ou origem do substantivo, utilizado na língua inglesa. À época fizemos assim para que lembrássemos de qual composição se tratava através do nome. Era temporário porque na nossa ideia o nome exporia demais a nossa intenção, e nós gostamos de deixar para a audiência o intuito do que criamos. Nossas influências sempre fizeram isso, entregar a arte para ser desmanchada por cada indivíduo à sua visão de mundo, então essa também é nossa forma de se entregar arte.

No fim, como decidimos lançar essa música como single parte de uma obra com duas músicas, que em vários aspectos se conversam por tratar também de mitologias que nos tornam imaturos evolutivamente como espécie, o nome Pan vem também como um “Happy Accident” já que é também Fauno – personagem mitológico – em inglês. Achamos que fazia sentido manter o nome.
Além do quê, soa bem e segue a linha de nomes incomuns (às vezes monossilábicos) de nossas músicas.

O que vocês esperam que “Pan” represente para os fãs da banda e para quem vai ouvir O Velho Manco pela primeira vez?

Esperamos demonstrar que nós levamos muito a sério compor e fazer arte em termos gerais. E nosso gosto passa por diversos estilos, desde psicodelia, passando por melodias vibrantes, ritmos dançantes, até o peso e agressividade quando o tema demanda isso do produto final. Tudo com um formato, timbres e harmonias que fazem as pessoas nos identificarem de longe.

Acrescente o fato de que somos aspirantes a poetas (talvez medíocres), e que o que falamos não traz qualquer conforto ou esperança para quem nos ouve, quem curte nosso som sabe exatamente o que vai ouvir, e quem não nos conhece talvez nos usem de trampolim para ouvir outras bandas que fazem música com as mesmas intenções que as nossas.

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