Neste domingo, 15 de setembro, a cantora e compositora cubana Daymé Arocena se apresenta no Festival MUCHO!, em São Paulo, a partir das 17h, prometendo uma performance marcante que combina neo-soul, ritmos afro-caribenhos e pop moderno. Em uma entrevista exclusiva para a Energy Mag, Daymé compartilha suas expectativas para o show e reflete sobre a importância do festival para sua carreira, além de falar sobre seu quarto álbum, Alkemi, e as colaborações e experiências que têm moldado sua jornada artística. Leia abaixo!
Daymé, você está prestes a se apresentar no festival MUCHO! neste domingo. Qual é a importância deste festival para você e para sua carreira?
Acredito que todo espaço onde você se apresenta é uma oportunidade de expansão que te dá a chance de ampliar sua mensagem e alcançar mais pessoas. Nós, cubanos, valorizamos muito a música brasileira. Além disso, ser músico me faz apreciar ainda mais países como o Brasil, e o fato de existirem festivais como o Festival Mucho, que sinto que tem uma visão mais pan-americana, mais inclusiva da música latina em todos os sentidos, não apenas da música brasileira ou cantada em português, mas que inclui música de outros países para unir musicalmente a América Latina, me parece essencial para promover essa expansão.
Seu quarto álbum, “Alkemi”, foi gravado em Porto Rico com o produtor Eduardo Cabra. Pode nos contar um pouco sobre como essa colaboração influenciou o som do álbum e como a mudança para Porto Rico impactou sua vida e carreira?
Na verdade, trabalhar com Eduardo foi uma das melhores coisas que me aconteceram na vida. Ele tem uma visão muito ampla e muito desinibida da música, é uma pessoa que não tem fronteiras musicais e que, como eu, não acredita muito em gêneros musicais. Eduardo acredita mais na integração de sons e em buscar os espaços para que as canções fluam. Ir para Porto Rico gravar meu último disco com ele foi a melhor decisão da minha vida. É evidente uma transformação na produção, de como ele conseguiu transformar meu som, de como ele deu uma leitura mais contemporânea às minhas canções e, ao mesmo tempo, diversificou minha mensagem musical e sonoramente. Além disso, trabalhar com ele me abriu as portas da indústria. Eu não tinha conhecimento da indústria porque venho de um país onde ela não existe, então, quando cheguei a Porto Rico, e depois de vê-lo trabalhar com outros artistas e da conexão que tivemos, consegui entender, por meio dele, como a indústria funcionava. Isso mudou muito a minha forma de ver a música, não apenas como uma forma de vida e sustento, mas de como me comunicar com o público. Sem dúvida, tudo isso influenciou bastante na decisão de ficar em Porto Rico. É um país prolífico musicalmente, há muitas coisas acontecendo e parece um lugar fértil para semear qualquer semente musical.
“Alkemi” mistura neo-soul, ritmos afro-caribenhos e pop moderno. Como você descreveria a evolução do seu som desde seu álbum de estreia “Nueva Era” até agora? O que motivou essa transformação?
Sou uma mulher inquieta e, mais do que inquieta, sou uma criadora. E os criadores estão sempre buscando renovação. “Quando essa vontade de mudar nos é tirada, é quando nos tornamos estéreis, de verdade.” Seria muito decepcionante para mim que meu quinto disco soasse igual ao primeiro. Não critico aqueles que têm um som muito semelhante em todos os seus projetos discográficos, mas acredito que algo que me caracteriza durante todos esses anos de carreira é buscar o contraste nos meus projetos e, ao mesmo tempo, algo que os unifique. Sempre haverá algo que dará homogeneidade à discografia de Daymé Arocena porque eu sou a autora das minhas canções, eu sou a autora das coisas que quero dizer, então existe um DNA, uma marca de identidade na forma como escrevo. Mesmo que a produção mude, a abordagem mude, o resultado musical mude, sempre ficará evidente que sou eu. Reinventar-se é divertido, te dá vontade de viver.
Você mencionou que a música chega até você por meio de sonhos e experiências espirituais. Pode compartilhar mais sobre como essas experiências influenciam sua composição e sua abordagem à música?
Eu nunca decidi ser compositora e escrever canções, é algo que vem comigo. Existem pessoas que dizem, “ah, eu gostaria de escrever canções”, pessoas que vão para a universidade e aprendem técnicas de composição, mas eu nunca escolhi isso, eu me expresso dessa maneira desde que me lembro. Existe um espaço entre estar dormindo e estar acordado, onde a pessoa está em total relaxamento, é como se você estivesse conectado a um plano diferente do plano físico e terreno em que vivemos, e esse plano me dá muita inspiração. Na verdade, a maioria das minhas canções surgiu dessa forma, e sinto que esses são presentes divinos. Às vezes sinto que é a música me utilizando como instrumento para existir, para ser. No final, eu tenho data de validade, eu vou morrer, mas a música não. Então, ela utiliza certas pessoas para continuar aqui nos conectando. No fim das contas, a música é um ato de conexão e comunhão.