Mon. Aug 18th, 2025

Estampando a nova capa digital da Energy Mag, o projeto TESS, comandado pelo multiartista Daniel Tessler, lança no dia 15 de agosto em todos os apps de música o aguardado álbum “Mais de Mil Palhaços no Salão”, pelo selo Monstro Discos. Incendiário, imprevisível e profundamente autoral, o trabalho foi gravado em 2014 no Estúdio Gorila, em Porto Alegre, com produção de Edu K e operação de áudio de Edo Portugal, mas chega ao mundo apenas agora, e ainda soa como se viesse do futuro.

Com mais de uma década de gestação, o álbum é uma síntese do caos contemporâneo em forma de som: um cruzamento eletrificado entre o groove de James Brown, o ataque visceral do punk, a psicodelia urbana dos Chemical Brothers e o balanço cósmico de Tim Maia Racional, tudo embalado por um espírito provocador e politizado.

“Mais de Mil Palhaços no Salão” vem sendo antecipado por três singles de forte impacto, que funcionam como cartas de apresentação dessa nova fase: “Meus Pés Não Estão no Chão”: com beat hipnótico e guitarras espaciais, a faixa funciona como um mantra urbano e lisérgico. “É uma música que paira entre a dúvida e a epifania. Tem algo de existencialismo nela, mas também uma vontade de flutuar acima do concreto das cidades”, explica Tessler.

“Combustível Interestelar”: um hino interplanetário da desilusão moderna, onde groove e punk colidem sob um céu psicodélico. “É como se o James Brown e o Rage Against The Machine tivessem se encontrado em órbita. É raiva, é libertação, é pista de dança espacial”, resume o artista. “V.S.F”: deboche, urgência e ironia dão o tom da faixa mais direta do álbum. “A ideia era fazer um rock eletrônico sem filtro, cru e dançante. Essa música não pede desculpa, é um dedo na ferida do moralismo e da apatia”, dispara Tessler.

O show de lançamento acontece no dia 14 de agosto no Bar Alto, em São Paulo, e marca o retorno ao palco de um dos nomes mais inventivos do novo rock nacional.

TESS surgiu no underground gaúcho em 2012, após o fim da banda Os Efervescentes, e se firmou em São Paulo como um projeto solo inquieto e colaborativo, com passagens por festivais e colaborações com nomes nacionais e internacionais. Em “Mais de Mil Palhaços no Salão”, Daniel Tessler prova que o tempo pode ser aliado da ousadia, e que ainda há espaço para discos que são, antes de tudo, experiências.

Confira a entrevista exclusiva:

O álbum “Mais de Mil Palhaços no Salão” foi gravado em 2014, mas só está sendo lançado agora. O que fez você esperar mais de uma década para colocá-lo no mundo, e como percebe que ele ainda soa como algo “do futuro”?

Na época existiam muitas bandas usando uma linguagem nessa linha, e o momento não permitiria que eu conseguisse explorar o disco como gostaria. Essa mistura com elementos eletrônicos, rock e funk 70 não é algo comum de se escutar, então preferi deixar pra quando pudesse explorar o disco e curtir estar tocando ele.

Foto: Cisco Vasques

Você descreveu o disco como uma “rebelião criativa”. Que momentos ou sentimentos de 2014 mais influenciaram essa explosão sonora e como eles se conectam ao seu momento atual?

Me sentia muito preso a um tipo de abordagem, onde era fácil estar atrelado a um tipo de música, um tipo de estilo, e quase sempre vinculado e associado a outros artistas. Eu queria quebrar todas as correntes. Se parar pra observar, todos os trabalhos da Tess são diferentes daquilo que vinha sendo feito no momento em que foram lançados, e mesmo assim essa comparação sempre foi feita. Esse sentimento, junto com uma raiva de situações constrangedoras do mercado foram combustível pra querer quebrar essas correntes. Não tem nem como definir esse disco. É rock? Sim. É eletrônico? Sim. É funk? Sim. E mais diversos elementos que estão ali. É uma linguagem nova, não tem como definir ou dizer que “é como aquele outro artista”. É diferente.

O trabalho mistura groove, punk, psicodelia e eletrônica de forma intensa e politizada. Como você encontra o equilíbrio entre provocar, fazer dançar e passar uma mensagem?

A mistura de referências, como Tim Maia e Kasabian, Chemical Brothers e Small Faces, Stone Roses e Mutantes, Jimi Hendrix e James Brown, com sentimentos de raiva, busca por liberdade, se entregar e ser rejeitado, etc, trazem inevitavelmente uma bomba explodindo. Dar vazão com mensagens diretas, dedo na cara, é necessário. Mensagens que soam como deveriam. Explodem como deveriam. São cruas, impacto imediato. Esse choque é o que rende quem escuta. Acredito que todo mundo precisa disso. Ser pego de surpresa com a mensagem sendo dita com o sentimento real.

Três singles (“Meus Pés Não Estão no Chão”, “Combustível Interestelar” e “V.S.F”) já deram um gostinho da obra. Qual deles você acha que melhor traduz a essência do álbum e por quê?

Essas três músicas condensam bem o que o disco trata: o desprendimento necessário pra ser visto e aceito como se é, além de encarar o desafio necessário pra ter essa liberdade. As formas como a gente se anestesia e acredita que as coisas “são como são”, e acabamos sabotando a nós mesmos pra voar mais alto. E a quebra total de correntes, de padrões que são impostos. São 3 músicas que deveriam ser escutadas sempre nessa ordem, juntas. Sem complementam em torno da ideia que o disco propõe. Difícil escolher apenas uma, mas eu acredito que V.S.F tem esse impacto mais direto e frontal, pois fala explicitamente o que quase ninguém tem coragem de dizer, seja em uma relação pessoal, profissional ou para situações que nos causem desconforto e nos colocam em um lugar que não é nosso. Essa música é uma atitude necessária e universal.

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