O cantor e compositor TESS, que estampa a nossa nova capa digital, está de volta com seu novo single, “O Mesmo Lado de Duas Moedas”. O som será lançado no dia 01 de novembro pela Marã Música em todas as plataformas digitais. A faixa carrega uma crítica direta ao processo eleitoral e à desinformação que permeia a sociedade.
TESS, que começou sua jornada musical tocando piano aos 6 anos de idade, só encontrou sua verdadeira paixão aos 10, ao pegar um violão e ser impactado por ícones como The Beatles, Chuck Berry e Elvis Presley. “Ali foi o ponto de virada, ali nasceu o artista de música,” relembra ele. Sua carreira profissional se consolidou no início dos anos 2000 com a banda Os Efervescentes, em Porto Alegre. “Foi com eles que entrei no mapa, antes disso tocava em bandas cover nos bares de Porto Alegre, mas sem uma postura profissional,” recorda.
“O Mesmo Lado de Duas Moedas” traz uma sonoridade menos garage, mas ainda intensa, refletindo o caos e a confusão das eleições, com influências diretas da banda britânica Supergrass. Confira a entrevista exclusiva sobre o novo trabalho:
“O Mesmo Lado de Duas Moedas” traz uma crítica contundente ao processo eleitoral e à desinformação. Como você enxerga o papel da música como ferramenta para provocar reflexão e incentivar um olhar crítico na sociedade?
A música, assim como outras expressões artísticas, são fundamentais pra gerar reflexão. A gente passa por um período extremamente confuso, onde somos levados a acreditar naquilo que nos agride menos, ou somos convencidos “no grito” a concordar com coisas absurdas. Acredito que a música honesta (que gera reflexão e não puxa brasa pra isso ou aquilo) é importante pra ter esse julgamento, pra olhar pra dentro, reconectar com o que é importante de fato. O ser humano moderno precisa fazer muita força pra não ser bombardeado por desinformação. A música tem a possibilidade de conectar pontos fundamentais e “limpar” essa teia ridícula de coisas inúteis e falsas.
Você menciona que a composição de “O Mesmo Lado de Duas Moedas” surgiu quase como um ditado após assistir a propagandas eleitorais e debates. Como foi o processo de transformar essas observações em uma faixa tão intensa e com humor ácido?
Vimos candidatos e candidatas de todo tipo nos debates. Obviamente nenhum deles, em lugar nenhum, tem preparo pra oferecer dignidade pra própria população. Pessoas com histórico de condenações, processos, crimes, pessoas que sequer tem noção da dimensão e importância do cargo que querem ocupar. Em São Paulo chamou mais atenção pois fomos obrigados a assistir cadeirada ser aplaudida, da mesma forma que um YouTuber/coach (com chances reais de vender!) que apanhou também ser aplaudido. É o cúmulo da bizarrice e, ainda tem eleitores que brigaram pois apoiam isso. É o Big Brother da vida real. Ninguém tá preocupado com a população de fato. Ninguém quer solução pra nada, mas “aqui fora” vira guerra pra defender o seu personagem favorito. Não é engraçado e assustador ao mesmo tempo? Normalizamos esse tipo de coisa. O fato é que isso não é normal. A sociedade tá doente e isso tem que ser tratado logo.
Recentemente, você lançou o EP “MOD”, que explora suas raízes no movimento Mod, punk e rock and roll. Como esses estilos e influências continuam a moldar sua identidade artística em novas produções como o single atual?
Essas raízes formam um caráter artístico do qual me orgulho. O rock and roll é o gênero mais democrático da música, o que tem profundidade artística, e costuma não apelar pra chamar atenção. Não é mastigado. É preciso ser transgressor de fato, mas sem gritar a toa. Nesse sentido, o caldeirão Mod/punk/rock and roll, é uma raíz forte que define minhas intenções e a forma como sigo em frente. É uma característica que está em toda minha trajetória, e nas músicas novas não é diferente, mesmo que seja apenas com um violão, ou com uma orquestra gigantesca. É uma definição de caráter artístico. Não é descartável.
A sonoridade do novo single é inspirada na acidez e humor de bandas como Supergrass. Quais outras referências musicais ou vivências ajudaram a construir o som e a mensagem desse lançamento?
As referências que tenho não se limitam apenas ao gênero rock, mas sim de música boa em geral e experiências vividas. Essa música em especial é forte a referência do Supergrass, mas tem um pouco de Mutantes ali, além de Beatles (sempre). Além disso tem toda essa aura Zé Carioca, e referências do tipo. Estamos cercados de inocentes. Muitos pensam que os fins realmente justificam os meios. É engraçado esse “cada um por si” que a gente vive, mas sempre cheios de bandeiras pra todo tipo de causa.
De experiências, no meio artístico somos obrigados a nos relacionar com pessoas maravilhosas e outras nem tanto – como em qualquer outro ramo – mas é muito mais fácil levar rasteira, pois mexe com sonhos e com coisas valiosas que expressamos em forma de música. Num passado não muito distante passei por algumas experiências negativas desse mercado, com pessoas que tem muita pose e péssimas intenções, malandros de todo tipo, e isso ainda reverbera de alguma forma. Então, o reflexo disso e das eleições, que acaba sendo um espelho de malandros e otários, aparece com essa abordagem no single “Os Dois Lados da Mesma Moeda”. Todo mundo já acreditou no discurso de algum malandro. É o retrato do Brasil. Pra baixo todo santo ajuda, mas a gente segue sorrindo e fazendo graça.