O cantor, compositor e instrumentista sul-mato-grossense Márcio de Camillo estreou recentemente o seu novo show, “Do Litoral Central do Brasil: Márcio de Camillo canta Geraldo Roca”, em São Paulo. O espetáculo, dirigido por Luiz André Cherubini, é uma homenagem ao cantautor Geraldo Roca, considerado um dos principais compositores da música regional do estado do Mato Grosso do Sul. Mas engana-se quem pensa que Márcio esteve ocupado apenas com a concepção e ensaios deste espetáculos nos últimos meses. Ele dividiu (e segue dividindo) seu tempo entre seus mais variados e bem-sucedidos projetos, com os quais viaja o país de Norte a Sul mensalmente. Encabeçado pelo “Crianceiras”, que desde 2012 aproxima o público infantil da literatura, da música, da poesia e das artes em geral, despertando a curiosidade e o amor pelo mundo das artes, e com destaque também para o “Hermanos Irmãos”, projeto em parceria com Rodrigo Teixeira e Jerry Espíndola, Márcio de Camillo, do alto de seus 25 anos de carreira dedicados às artes, transita livremente entre a música, o teatro, a poesia e suas composições próprias.
Nesta entrevista exclusiva para a Energy Mag, você vai conhecer um pouquinho sobre o que permeia o universo deste artista sul-mato-grossense, um dos maiores nomes da mistura folk, blues e polca-rock deste país.
Márcio, obrigada pela entrevista! Você é um artista com diversos projetos paralelos para vários públicos e isso é fascinante. Como você concilia tantos projetos distintos e de tanta duração como o “Crianceiras”, o “Hermanos Irmãos” e agora o mais recente “Do Litoral Central do Brasil: Márcio de Camillo canta Geraldo Roca”?
Talvez este seja o meu maior diferencial… mas não só meu, muitos artistas têm esse perfil. Eu penso em públicos. No caso do “Crianceiras”, eu penso nesse público juvenil, que necessita dessa “arte-educação”. Eu acredito que a arte tem esse compromisso, que o artista tem esse compromisso de levar a arte, e também o “Crianceiras” faz parte da construção da minha obra. O “Hermanos Irmãos” é uma fotografia sonora da região de onde eu venho, que é o Mato Grosso do Sul. A minha família veio do Pantanal, da região ali de Aquidauana, principalmente a parte da minha família artística, que é “Castro” por parte da minha família por parte da minha avó. A minha avó por parte de mãe, também era concertista, então eu sou rodeado de artistas. Minha família é uma família artística. E sobre “Do Litoral Central do Brasil”, eu sempre tive muita admiração pela obra do Geraldo Roca. Essa obra conversa muito com a minha obra. Ele era um compositor eclético e me colocou nesse lugar também e eu penso música da mesma forma como ele pensava. O Geraldo Roca gostava muito de escutar música clássica, João Gilberto, que não tem muito a ver com a obra dele, mas também tem. Então, eu acho que, respondendo a sua pergunta, eu sou um músico eclético. Talvez seja por causa do meu signo. Eu sou geminiano.
Falando especificamente sobre o show em homenagem ao Geraldo Roca. Ele estreou em São Paulo recentemente, mas você pretende viajar com essa turnê? Você pode falar um pouquinho sobre a sua relação com este artista que influenciou (e segue influenciando) outros cantores e compositores do nosso país?
Quando eu crio um espetáculo, eu já tenho na mente essa ideia de continuidade. Então é um espetáculo que tem muitas pessoas envolvidas, começando pelo diretor, Luiz André Cherubini, que é o diretor-geral dos meus outros espetáculos e esse é o primeiro espetáculo adulto que nós trabalhamos juntos. Para mim, é uma oportunidade grandiosa. O Luiz André é um fã do Geraldo Roca. Por isso que essa provocação, de fazer a homenagem, também parte dele. A gente conseguiu realizar com a participação dos músicos que também fazem parte do “Crianceiras”. Na verdade, é uma grande equipe que caminha junto também apresentando essa diversidade de espetáculos que eu vou levando na minha carreira.
O Geraldo Roca era meu vizinho e morava bem na frente da minha casa. Então eu acompanhei a carreira dele. Mato Grosso do Sul tem três artistas extremamente importantes para a moderna música sul-mato-grossense que é o Paulo Simões, o Geraldo Espíndola e o Geraldo Roca. Tudo que você vê do Mato Grosso do Sul passa pela mão desses três artistas. O Almir Sater, por exemplo, fala muito do Geraldo Espíndola. Ele fala também do Geraldo Roca, ele é parceiro do Paulo Simões, o Renato Teixeira conheceu o Geraldo Roca ainda menino, quando ele chegou com um trem do Pantanal recém composta e mostra pra ele, e o Renato Teixeira logo de cara viu que era um artista maravilhoso. Então essa minha homenagem pro Geraldo Roca, eu estou reverenciando um dos grandes compositores que o Brasil já teve e agora a gente coloca a luz na obra dele pra novas gerações conhecerem e se influenciarem também por esse grande compositor.
O “Crianceiras” é um dos projetos pelos quais você é mais conhecido, tendo duas “versões” muito celebradas, em homenagem aos poetas Manoel de Barros e Mário Quintana. Quando você idealizou o projeto em 2012, imaginou que ele fosse ser tão bem sucedido e com tamanha longevidade? Alguma chance de vermos um Crianceiras com tema de um terceiro poeta nacional?
O “Crianceiras” é um projeto pelo qual eu tenho muito carinho. Eu já fiz muitos projetos, fui diretor artístico do “Festival América do Sul Pantanal”. Tive um programa de cultura na Globo Centro-Oeste, na TV Morena, por quatro anos. É um programa maravilhoso que eu ajudei a criar. O “Crianceiras” foi um projeto que, na verdade, eu queria ensinar poesia para minha filha de uma maneira divertida. Um dia. eu fui na casa do poeta Manoel de Barros, pedi a permissão para ele para musicar a obra dele e aquilo foi se tornando uma coisa tão maravilhosa para mim e para ele que ele no final da vida disse que “ele havia feito a poesia e que eu havia feito o encanto”. O “Crianceiras” virou aplicativo, desenho animado, espetáculo, material educativo para professores e não para por aí. Depois eu lancei o Mário Quintana. Eu acho que o “Crianceiras” entrou também para esse universo da arte-educação, pensando na criança, pensando na cultura da infância. É nesse lugar que eu vejo hoje o “Crianceiras” e eu tenho muito orgulho desse projeto, eu acho que eu estou, como artista, deixando algo deixando algo importante também em relação a minha obra.
E sempre me perguntam: sobre qual poeta vai ser o “Crianceiras 3”? Já existe. Eu só estou esperando os direitos autorais. Agora eu pergunto, será que é um poeta ou será que é uma poetisa?
Você é um dos principais representantes da cultura sul-mato-grossense em atividade. Se você fosse indicar cinco outros nomes representantes da cultura do Estado (seja na música, artes plásticas, cinema…) para uma pessoa que gostaria de se aprofundar no assunto, quem você citaria? n
Olha, nas artes plásticas eu indicaria Humberto Espíndola; na literatura um poeta de Dourado chamado Emmanuel Marinho; no cinema Joel Pizzini, um cineasta que eu admiro muito, conhecido nacionalmente. Na música, eu indicaria o sanfoneiro Dino Rocha, um dos maiores sanfoneiros desse país. Na música, como é difícil eu indicar um artista, eu vou indicar um CD que eu produzi, que é uma enciclopédia da música sul-mato-grossense, onde eu juntei três gerações em um único CD. Você acha nos streamings, se chama “Gerações M.S” Ali você vai ter uma ideia bem ampla de como é a música do Mato Grosso do Sul e suas vertentes.
Sua agenda de shows está sempre lotada com todos os diferentes projetos paralelos que você criou e está envolvido. Você já tem algo em mente para o futuro que possa compartilhar sem dar spoilers se não quiser? 🙂
Ah, sobre os novos projetos… eu vou deixar no ar, eu sou supersticioso, eu só gosto de contar depois que está pronto (risos).