A banda mineira Cigar Box Band, que estampa a nova capa da Energy Mag, apresenta nesta sexta-feira, 09 de maio, o seu terceiro álbum de estúdio, “It’s All Right”, que chega a todos os aplicativos de música pela Marã Música. Com uma sonoridade que mistura blues rock moderno com influências que vão de Sea Sick Steve a ZZ Top e Gary Clark Jr., o disco traduz o espírito visceral e inquieto da banda, formada em Belo Horizonte em 2021. Em entrevista, eles revelam detalhes sobre o novo projeto, parcerias e muito mais.
Para a banda, esse novo trabalho representa mais do que um disco: é uma declaração de princípios artísticos. Com letras que transitam entre o real e o ficcional, “It’s All Right” fala sobre paixões, luxúria, vícios e existências errantes. Canções como “Find The Dealer”, que narra a história de um traficante desaparecido, e “Riverdale Blues”, um delta blues lo-fi sobre um bluseiro alcoólatra à beira da estrada, ilustram esse universo híbrido, cheio de sarcasmo e poesia.
A escrita das faixas, assinadas por Fred Chamone, nasceu de um processo quase intuitivo. Todo o processo de composição foi orgânico, desenvolvido em meio à natureza, em vilarejos ecoturísticos de Minas Gerais como Tabuleiro e Serra do Cipó. A introdução instrumental do álbum, “Foo Fish Canyon”, é uma narrativa sonora épica que descreve justamente a travessia até o Canyon do Peixe Tolo, em Tabuleiro.
Além das já características guitarras cigar box, que nomeiam a banda e traduzem sua essência, o álbum investe em novas camadas sonoras, como solos de guitarra mais destacados, afinações variadas (incluindo Drop D e afinação aberta) e arranjos com elementos de Hammond e percussões orgânicas, criando atmosferas que mesclam blues, maracatu e classic rock. A produção do disco ficou a cargo de Fred Chamone no Studio Independente, em Belo Horizonte, com a mixagem da faixa “Erase Man” realizada por Cris Simões no estúdio Pacific Áudio.
O álbum também conta com a participação especial da cantora e compositora Lvise (Luise Caldeira), jovem revelação do blues e R&B de BH, em “Long Way”. Filha do renomado guitarrista Auder Jr., da Auder Gang, Lvise adiciona uma nova camada de intensidade à faixa que sintetiza bem a fusão entre blues, grunge e classic rock que permeia o trabalho.
A expectativa para o lançamento é grande, tanto nas plataformas quanto ao vivo. O show oficial de estreia do álbum está marcado para o dia 16 de maio, no Chopperia Choppehead, em Belo Horizonte. Na mesma data, está previsto também o lançamento do clipe da faixa-título “It’s All Right”, dirigido por Felipe Cavalieri.
Confira a entrevista completa com a banda:
“It’s All Right” mistura blues rock moderno com influências clássicas e até ritmos brasileiros como o maracatu. Como foi o processo de encontrar esse equilíbrio entre o respeito às raízes do blues e a vontade de inovar?
Foi um processo natural, a gente não conseguiu ficar preso na grade clássica do blues, ou seja, nesse álbum sentimos necessidade de abrir mais ainda o campo estético do grupo e em termos de riffs , harmonias e melodias. É um álbum mais dançante e tem como influências, o rock clássico, o blues, a black music (funk /soul), o hard rock, grunge e também ritmos brasileiros como o maracatu e a viola caipira.
A composição do álbum foi feita em lugares como Tabuleiro e Serra do Cipó. Como o contato com a natureza e esses ambientes específicos influenciou a sonoridade e as letras do disco?
Natureza e cigar box guitar são coisas que conversam entre si. A cigar box guitar com slide é algo tao orgânico que frequentemente escutamos sons de bichos em seus harmônicos (incluindo mugido de bois, grasnado de pato, etc..) . Acho que o silêncio, a paz e o som da natureza nos inspiram a compor. É como se precisássemos nos conectar com algo além da vida da cidade e bem distante do mundo virtual.

A participação da Lvise em “Long Way” adiciona uma nova camada à sonoridade da banda. Como surgiu essa parceria e o que ela trouxe de novo para o álbum?
Nosso guitarrista, Fred Chamone, assistiu uma performance da Lvise num festival de blues e achou a postura e o timbre da cantora bem interessantes. Ela é filha de um grande guitarrista de blues de MG, o Auder Jr. da banda Auder Gang, ele foi primeiro professor de guitarra de Fred (em sua adolescência, com 14 anos) e isso o inspirou a fazer o convite também. Logo no primeiro contato, Lvise e Fred tiveram um entrosamento musical muito legal.
A faixa “Find The Dealer” traz uma narrativa quase cinematográfica. Vocês costumam partir de histórias para compor ou as letras nascem mesmo da experimentação sonora, como citou o Fred Chamone?
O Germano Renan (vocal da banda) tem uma forma de literatura mais baseada na experiência de vida e contando histórias, de forma bem emotiva, já Fred Chamone compõe de uma forma mais ficcticia, onde a sonoridade das palavras vai dando rumo ao assunto, lidando com questões mais voltadas sobre o lamento do blues, o hedonismo, a boemia, indagações espirituais , mas em todos os casos com conteúdos bem reflexivos, filosóficos, e que questionam o comportamento humano.
O álbum é apresentado como uma declaração artística de resistência e propósito. O que vocês diriam que mudou na visão de vocês sobre a arte e o blues rock desde o primeiro álbum até agora?
O primeiro álbum partiu de intensas experimentações com diferentes tipos de cigar box guitars. Compor e gravar uma pá Tramontina com captador de guitarra foi realmente um grande desafio, e também com as outras cigar box guitars de 3 cordas em afinação aberta. O primeiro álbum a gente tentou ser “o mais blues possível” mas com plena convicção que não somos uma banda de blues tradicional e sem pretensão nenhuma de trilhar esse caminho estético. Utilizamos muito a gaita como instrumento melódico do álbum (que foram gravadas pelo Eduardo Sanna, gaitista da Little Butter, banda jump blues /shuffle de BH). Já o 2º álbum novas ideias foram surgindo, novos riffs, e gente foi ficando mais a vontade no processo criativo. Já o terceiro álbum resolvemos abrir mais o leque de sonoridades e fazer algo mais diversificado e mais rico, explorando mais solos de guitarra ao invés de gaita, camas de hammonds, baterias bem elaboradas, etc…
Sobre a banda:
Formada por Fred Chamone, Paulo Espinha e Germano Renan – músicos com mais de 25 anos de estrada no cenário do rock mineiro – a Cigar Box Band nasceu de forma espontânea, em jam sessions despretensiosas entre amigos. O trio viu no blues rock uma forma de resgatar a essência do estilo e atualizar suas linguagens. “Queríamos manter viva a chama do blues rock, com alma, pegada e muita identidade”, explicam. Com passagens por festivais como o BH Soul Blues Festival, BH Stone Rock Festival e apresentações em pubs e eventos por Minas Gerais, a banda construiu seu espaço de forma sólida e autêntica.
Depois de estrear com o álbum Don’t Belong em 2024 pela gravadora francesa M&O Music, seguido por Time To Go no mesmo ano, a banda chega agora a “It’s All Right” como um marco de maturidade artística e expansão sonora. Mais do que um disco, o trabalho é um manifesto em forma de blues rock: fazer arte é o único caminho, e a estrada continua longa – mas cheia de propósito.